Estudo revela que apenas metade dos estudantes conclui estudos na idade certa
A trajetória regular do ensino fundamental é um desafio, principalmente para alunos de baixo nível socioeconômico, com deficiência, indígenas e negros
A pesquisa “A permanência escolar importa: Indicador de Trajetórias Educacionais”, realizada de forma inédita pela Fundação Itaú, revela que apenas 52% dos estudantes brasileiros nascidos entre 2000 e 2005, que atualmente têm entre 19 e 24 anos, conseguiram concluir o Ensino Fundamental na idade certa e 41% deles finalizaram o Ensino Médio no período esperado. O estudo contou com a colaboração e apoio dos pesquisadores Chico Soares, Izabel Costa da Fonseca, Clarissa Guimarães e Maria Teresa Gonzaga Alves.
“É um instrumento que identifica aqueles que estão sendo excluídos e deixados para trás no sistema escolar. Representa um importante indicador para entender, qualificar e tomar decisões para garantir o direito desses estudantes e atuar pela redução das desigualdades. Temos dados para fomentar, inclusive, o debate sobre o novo Plano Nacional de Educação do próximo decênio 2024-2034”, diz a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes.
A metodologia de construção do indicador considerou a regularidade da trajetória educacional de nove anos, que corresponde ao Ensino Fundamental (do 1º ao 9º ano), e a regularidade do percurso escolar de doze anos, que contempla também o Ensino Médio. Com base nessa característica, foram definidas quatro categorias:
Trajetória regular: representa o aluno que ingressou na idade certa na escola, progrediu a cada ano e concluiu todas as etapas de ensino. Essa é a trajetória desejável e que deveria ser garantida para todos os estudantes do Brasil;
Trajetória com pouca irregularidade: é aquela em que há uma ou duas intercorrências, como entrada tardia e episódios de reprovação e/ou abandono;
Trajetória com muita irregularidade: representa mais de dois anos de defasagem devido às mesmas ocorrências;
Trajetória interrompida: quando o estudante evade ou abandona a escola e não retorna ao sistema no período de tempo analisado.
O indicador apresenta ainda informações que não têm sido objeto de pesquisas no campo da educação, como entrada tardia, abandono e conclusão de etapas de ensino na idade certa, além de descrever desigualdades na qualidade da permanência escolar entre grupos sociais, de maneira longitudinal.
Nível Socioeconômico
A pesquisa evidencia que os estudantes com nível socioeconômico mais alto apresentam trajetória escolar expressivamente melhor do que os mais vulneráveis. Assim, enquanto 70% dos alunos do primeiro grupo apresentam trajetórias regulares, apenas 38% daqueles de escolas mais vulneráveis conseguiram iniciar e finalizar o Ensino Fundamental na idade correta.
Grupos de raça/cor
Segundo o indicador, a trajetória regular entre estudantes negros (pretos + pardos) é aproximadamente 20 pontos percentuais menor do que entre os brancos. Em relação aos indígenas, esse número está em torno de 40pp. Os dados mostram que estudantes brancos possuem regularidade de 62%; pardos, 46%; pretos, 41%; e indígenas, 23%.
Sexo
A regularidade é um desafio ainda maior para estudantes do sexo masculino que estudam em escolas de menor nível socioeconômico, deficientes, negros e indígenas. Já para as meninas, a qualidade da permanência nas escolas é superior. Cerca de 58% delas têm trajetórias de nove anos regulares, contra 46% entre os meninos.
Estudantes com deficiência
O levantamento aponta que apenas 22% dos estudantes com deficiência têm trajetória regular, entre 2011 e 2019, contra 53% dos sem deficiência. Aproximadamente 56% deles apresentam percursos com muita irregularidade; 64% têm trajetórias com irregularidades (concluem o Ensino Fundamental com intercorrências); e cerca de 14% evadem.
Sobre a pesquisa
O estudo foi construído a partir de dados do Banco Longitudinal do Censo Escolar, permitindo analisar a população nascida entre 2000 e 2005, acompanhada no intervalo de 2007 a 2019. Essa proposta de análise é uma possibilidade de apresentar o conjunto das trajetórias ao longo de toda a vida escolar do estudante, indo além do diagnóstico do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que retrata o cenário a cada dois anos, ou mesmo do Censo Escolar, realizado anualmente.