Analfabetismo funcional atinge 29% dos brasileiros, aponta novo estudo do Inaf
Indicador de Alfabetismo Funcional voltou a ser realizado após seis anos de interrupção
Coordenado pela organização da sociedade civil Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, a nova edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nesta segunda-feira, 05 de maio, é uma co-realização da Fundação Itaú, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, UNESCO e UNICEF.
Entre os resultados, o levantamento apontou que o analfabetismo funcional não recuou no Brasil nos últimos seis anos e alcançou 29% dos brasileiros de 15 a 64 anos, mesmo patamar verificado em 2018, ano em que a série histórica da pesquisa bienal, publicada desde 2001, foi interrompida devido à pandemia de Covid-19. Com relação aos jovens, o analfabetismo funcional teve um ligeiro incremento. Em 2018, 14% dos jovens de 15 a 29 anos estavam nessa condição e o percentual aumentou para 16% em 2024.
Os níveis de alfabetismo são definidos a partir do desempenho em um teste que aborda situações presentes no cotidiano dos respondentes, considerando tanto habilidades relacionadas a textos – chamadas de letramento – quanto aquelas relacionadas aos números, designadas como numeramento. As aplicações inéditas no Inaf 2024, ao convidar os respondentes a resolver algumas questões aplicadas em um aparelho de telefone celular, permitem avançar no entendimento de em que medida o maior ou menor nível de alfabetismo incide sobre como as pessoas lidam com textos e informações numéricas no mundo digital.
O indicador traz evidências de que, mesmo após intervalo de seis anos, não houve mudanças significativas no cenário do alfabetismo no Brasil. E traz um alerta: possivelmente em função dos dois anos de descontinuidades nas trajetórias educacionais e de outras oportunidades de desenvolvimento por conta da pandemia de Covid-19, alguns indicadores de alfabetismo oscilaram negativamente.
Após a redução contínua na proporção de analfabetos funcionais até 2009, essa proporção deixou de cair. O percentual continua praticamente inalterado desde então e representa quase uma a cada três pessoas na faixa de idade considerada no estudo.
“Durante as duas décadas de existência do Inaf, dados do IBGE evidenciaram uma transformação no panorama educacional brasileiro, refletindo os avanços obtidos com a expansão da educação pública no período, que se aproximou da universalização do acesso no ensino fundamental. Também demonstram uma grande expansão do acesso e conclusão do ensino médio, assim como um aumento significativo do acesso ao ensino superior”, avalia Ana Lima, coordenadora do estudo.
“Esse intenso crescimento refletiu-se na importante redução dos analfabetos funcionais. O importante agora é assegurar avanços no desenvolvimento contínuo das habilidades de letramento e numeramento dos brasileiros, tanto para aqueles que ainda estão na escola quanto para os que já estão fora dela”, completa ela.
Para Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú: “Os indicadores apontam que estamos diante de um momento crítico e muito preocupante. Potencializado em meio à transformação digital acelerada pela inteligência artificial e aos profundos desafios das mudanças climáticas, os países se diferenciarão, sobretudo, pela capacidade de formar sua juventude, desenvolver talentos e retê-los para atuar nessas duas novas fronteiras. É alarmante saber que apenas 10% da população brasileira é considerada proficiente em leitura, escrita e matemática. Como enfrentar a desigualdade e ampliar a produtividade com uma população nessas condições?”, questiona.
“Além de todo o esforço pela melhoria da educação, acredito que o Brasil precisa firmar um pacto pela matemática – um compromisso nacional, envolvendo governos, universidades, empresas e a sociedade civil. Só com mobilização e ação coordenada seremos capazes de transformar esse grave problema em uma grande oportunidade: ampliar a cidadania e promover a inclusão produtiva dos jovens brasileiros”, conclui.
Sobre o estudo
Esta edição do Inaf entrevistou 2.554 indivíduos de 15 a 64 anos, entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, em todas as regiões do país, para mapear as habilidades de leitura, escrita e matemática dos brasileiros. A margem de erro estimada varia entre dois e três pontos percentuais, a depender da faixa etária analisada considerando um intervalo de confiança estimado de 95%.
Confira o dados completos em: https://alfabetismofuncional.org.br/